Christina Vital da Cunha
Drª Ciências Sociais pelo PPCIS/UERJ
Profª. Adjunta Antropologia Cultural – UFF
Colaboradora do ISER
A presença dos evangélicos na mídia impressa no Brasil tem início com as Missões Protestantes nos anos de 1830. Nessa época, Presbiterianos, Metodistas e outros chamados Evangélicos Históricos ou de Missões, mantinham jornais, boletins semanais nos quais divulgavam a Palavra. Pouco mais de um século depois, mais precisamente nos anos de 1940, surgiram os primeiros programas de rádio evangélicos. As pioneiras nesta frente de atuação foram a Igreja Adventista e a Assembléia de Deus. Em 1960 surgiram os primeiros programas evangélicos na TV brasileira, no entanto, não eram veiculados em rede nacional e tinham o perfil de curta duração. Os Adventistas, como na programação de rádio, foram os pioneiros na realização de programas evangélicos na televisão.
Os pentecostais chegaram à mídia televisiva somente em 1960, na TV TUPI, num programa com a direção de Mac Alister, da Igreja Nova Vida. Nos anos 1980, a presença evangélica na televisão se massificou. As rádios, no entanto, anos antes da tv, já contavam com um sem número de programas evangélicos durante sua grade horária diária.
Na pesquisa “Evangélicos e Doutrina no Ar: uma investigação sobre os evangélicos nas Comissões e Conselhos do Legislativo Nacional”, ISER/FUNDAÇÃO FORD, realizada entre os anos de 2007 e 2009 observamos a presença das religiões na mídia hoje em meio aos fortes debates sobre a democratização da comunicação no Brasil. Na pesquisa fizemos observação direta em fóruns, seminários e conselhos nacionais e internacionais que tratam da temática da mídia. Realizamos, ainda, entrevistas com diversos atores presentes neste debate como intelectuais, pesquisadores, políticos evangélicos e militantes pela democratização da comunicação no país.
Um dos resultados desta pesquisa alerta para o descompasso entre as expectativas dos vários atores sociais quanto ao papel das mídias na sociedade na atualidade. Para os evangélicos, foco principal de nossa pesquisa, a TV deve desempenhar um papel para a construção de uma sociedade menos violenta, mais igualitária. Neste sentido, o avanço dos programas e emissoras de TV evangélicas é visto positivamente e justificado como um serviço prestado à sociedade no momento em que este segmento religioso agrega um conhecimento à sociedade que pode transformá-la para melhor . Nas palavras de um deputado federal que compõe a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional:
“Ela (a igreja) tem uma missão. Por exemplo, Jesus disse que ela é o sal da terra e a luz do mundo; ela foi um sal, mas um sal que esteve só no saleiro, né? Então, pra salgar, tem que estar em contato com a matéria. Recuou bastante, né, e esse perfil é um perfil que deu prejuízo; perfil de comportamento, perfil de visão estratégica, perfil de atuação; deu prejuízo; hoje, tem que correr, correr contra o tempo, buscar rádio, buscar televisão, buscar todos os meios de comunicação pra que o evangelho realmente faça a diferença, porque senão daqui uns dias a gente vai ter um país insuportável, né? Você hoje vê um país... A Segurança Pública, por exemplo, está com deficiência e todo mundo sabe que o governo não dá conta disso; a igreja dá conta disso. Parece algo absurdo dizer que ninguém dá conta disso, da questão... Se a igreja chegar com o evangelho na família do bandido, enquanto esse bandido não nasceu, está nascendo, ou tenha nascido, e seja uma criança, o evangelho muda o destino, correto? Agora, depois que o cara nasce, cresce e pega uma metralhadora, você não consegue mais; é difícil você ganhar uma pessoa dessa pra trazê-lo, pra ser uma boa pessoa, né? Mas se o evangelho chegar lá, antes do perigo, antes do problema, o evangelho cura isso. O remédio pro Brasil passa por isso. O governo hoje gasta 10% do PIB, mais do que saúde, educação, assistência social, tudo junto, com segurança e está aí essa situação. Quer dizer, é um trabalho que ele faz, um trabalho, digamos assim, que não é preventivo, é um trabalho curativo, uma força e tal, mas não segura, porque uma máquina aqui produzindo bandidos 24 horas, né, induzido pelas questões sociais, induzido pela falta de conhecimento, de temor de Deus, de respeito, de tudo; o evangelho muda esse comportamento e bota o cara para ser uma boa pessoa, um bom cidadão, um bom pai de família, uma boa mãe de família”.
Em contraposição a este discurso estão variados atores que rechaçam a presença das religiões na mídia pautados, principalmente, nos argumentos seguintes: 1) o caráter laico do Estado Brasileiro. Sendo assim, não caberia ao executivo conceder outorgas de rádio e TV, que são bens públicos, para segmentos religiosos; 2) outra frente de argumentos refere-se à qualidade do conteúdo oferecido pelos programas religiosos. Isto é, retomam a discussão do papel social da TV e rádio afirmando que os conteúdos devem ser democráticos, isto é, devem atender ao gosto de todos e não somente de alguns, e devem ter qualidade. Os bens públicos, nesta chave de leitura, não deveriam ser destinados à apresentação destes conteúdos religiosos que não se adequariam aos padrões de qualidade educativos e lúdicos que estes grupos defendem; 3) discute-se a legalidade da sublocação de horários nas TVs abertas (o que atinge não só, mas principalmente, os programas evangélicos).
Neste momento o ISER prepara-se para continuar acompanhando e interferindo neste debate, pois acreditamos que deste modo estaremos contribuindo para o esclarecimento de importantes questões que tomam o debate público. Pretendemos, assim, contribuir para o fortalecimento dos direitos humanos a partir da produção de informações confiáveis que subsidiem mais e mais a nossa ação e a dos demais militantes pela transparência nas concessões públicas de TV e rádio, pela democracia na produção de conteúdos e para um TV brasileira de maior qualidade para todos.
Drª Ciências Sociais pelo PPCIS/UERJ
Profª. Adjunta Antropologia Cultural – UFF
Colaboradora do ISER
A presença dos evangélicos na mídia impressa no Brasil tem início com as Missões Protestantes nos anos de 1830. Nessa época, Presbiterianos, Metodistas e outros chamados Evangélicos Históricos ou de Missões, mantinham jornais, boletins semanais nos quais divulgavam a Palavra. Pouco mais de um século depois, mais precisamente nos anos de 1940, surgiram os primeiros programas de rádio evangélicos. As pioneiras nesta frente de atuação foram a Igreja Adventista e a Assembléia de Deus. Em 1960 surgiram os primeiros programas evangélicos na TV brasileira, no entanto, não eram veiculados em rede nacional e tinham o perfil de curta duração. Os Adventistas, como na programação de rádio, foram os pioneiros na realização de programas evangélicos na televisão.
Os pentecostais chegaram à mídia televisiva somente em 1960, na TV TUPI, num programa com a direção de Mac Alister, da Igreja Nova Vida. Nos anos 1980, a presença evangélica na televisão se massificou. As rádios, no entanto, anos antes da tv, já contavam com um sem número de programas evangélicos durante sua grade horária diária.
Na pesquisa “Evangélicos e Doutrina no Ar: uma investigação sobre os evangélicos nas Comissões e Conselhos do Legislativo Nacional”, ISER/FUNDAÇÃO FORD, realizada entre os anos de 2007 e 2009 observamos a presença das religiões na mídia hoje em meio aos fortes debates sobre a democratização da comunicação no Brasil. Na pesquisa fizemos observação direta em fóruns, seminários e conselhos nacionais e internacionais que tratam da temática da mídia. Realizamos, ainda, entrevistas com diversos atores presentes neste debate como intelectuais, pesquisadores, políticos evangélicos e militantes pela democratização da comunicação no país.
Um dos resultados desta pesquisa alerta para o descompasso entre as expectativas dos vários atores sociais quanto ao papel das mídias na sociedade na atualidade. Para os evangélicos, foco principal de nossa pesquisa, a TV deve desempenhar um papel para a construção de uma sociedade menos violenta, mais igualitária. Neste sentido, o avanço dos programas e emissoras de TV evangélicas é visto positivamente e justificado como um serviço prestado à sociedade no momento em que este segmento religioso agrega um conhecimento à sociedade que pode transformá-la para melhor . Nas palavras de um deputado federal que compõe a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional:
“Ela (a igreja) tem uma missão. Por exemplo, Jesus disse que ela é o sal da terra e a luz do mundo; ela foi um sal, mas um sal que esteve só no saleiro, né? Então, pra salgar, tem que estar em contato com a matéria. Recuou bastante, né, e esse perfil é um perfil que deu prejuízo; perfil de comportamento, perfil de visão estratégica, perfil de atuação; deu prejuízo; hoje, tem que correr, correr contra o tempo, buscar rádio, buscar televisão, buscar todos os meios de comunicação pra que o evangelho realmente faça a diferença, porque senão daqui uns dias a gente vai ter um país insuportável, né? Você hoje vê um país... A Segurança Pública, por exemplo, está com deficiência e todo mundo sabe que o governo não dá conta disso; a igreja dá conta disso. Parece algo absurdo dizer que ninguém dá conta disso, da questão... Se a igreja chegar com o evangelho na família do bandido, enquanto esse bandido não nasceu, está nascendo, ou tenha nascido, e seja uma criança, o evangelho muda o destino, correto? Agora, depois que o cara nasce, cresce e pega uma metralhadora, você não consegue mais; é difícil você ganhar uma pessoa dessa pra trazê-lo, pra ser uma boa pessoa, né? Mas se o evangelho chegar lá, antes do perigo, antes do problema, o evangelho cura isso. O remédio pro Brasil passa por isso. O governo hoje gasta 10% do PIB, mais do que saúde, educação, assistência social, tudo junto, com segurança e está aí essa situação. Quer dizer, é um trabalho que ele faz, um trabalho, digamos assim, que não é preventivo, é um trabalho curativo, uma força e tal, mas não segura, porque uma máquina aqui produzindo bandidos 24 horas, né, induzido pelas questões sociais, induzido pela falta de conhecimento, de temor de Deus, de respeito, de tudo; o evangelho muda esse comportamento e bota o cara para ser uma boa pessoa, um bom cidadão, um bom pai de família, uma boa mãe de família”.
Em contraposição a este discurso estão variados atores que rechaçam a presença das religiões na mídia pautados, principalmente, nos argumentos seguintes: 1) o caráter laico do Estado Brasileiro. Sendo assim, não caberia ao executivo conceder outorgas de rádio e TV, que são bens públicos, para segmentos religiosos; 2) outra frente de argumentos refere-se à qualidade do conteúdo oferecido pelos programas religiosos. Isto é, retomam a discussão do papel social da TV e rádio afirmando que os conteúdos devem ser democráticos, isto é, devem atender ao gosto de todos e não somente de alguns, e devem ter qualidade. Os bens públicos, nesta chave de leitura, não deveriam ser destinados à apresentação destes conteúdos religiosos que não se adequariam aos padrões de qualidade educativos e lúdicos que estes grupos defendem; 3) discute-se a legalidade da sublocação de horários nas TVs abertas (o que atinge não só, mas principalmente, os programas evangélicos).
Neste momento o ISER prepara-se para continuar acompanhando e interferindo neste debate, pois acreditamos que deste modo estaremos contribuindo para o esclarecimento de importantes questões que tomam o debate público. Pretendemos, assim, contribuir para o fortalecimento dos direitos humanos a partir da produção de informações confiáveis que subsidiem mais e mais a nossa ação e a dos demais militantes pela transparência nas concessões públicas de TV e rádio, pela democracia na produção de conteúdos e para um TV brasileira de maior qualidade para todos.