sábado, 11 de julho de 2009

Religiosos de matriz africana terão órgão similar a CNBB

S. Paulo - Será no próximo mês de agosto, em Brasília, o Encontro com cerca de 120 lideranças – Yalorixás, Babalorixás e Ogãs de todo o país -, que marcará o lançamento oficial do Fórum Nacional das Religiões de Matriz Africana no Brasil – órgão que terá papel e funções similares ao que já exerce a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para os católicos.

A este Encontro deverão estar presentes as principais lideranças, Babalorixás e Yalorixás – em especial as Mães Silvia de Oxalá, de S. Paulo, Mãe Beata, Mãe Stela, da Bahia e Baba Dyba de Yemanjá, do Rio Grande do Sul - que, na plenária final da II Conferência da Igualdade Racial, realizada no mês passado em Brasília, travaram uma dura batalha para neutralizar resistências a criação do Fórum.

Embora já tenha sido informalmente criado, o Fórum não pôde ser oficializado na Conferência porque o ministro Edson Santos – com o apoio de correntes políticas como a CONEN - entendeu que não seria o caso de criá-lo numa Conferência convocada pelo Governo Brasileiro.

"Consideramos inadequada a criação de um Fórum dentro da Conferência. Eles (os religiosos de matriz africana) vão se organizar no tempo e no local mais adequado para eles. A Seppir não quer tutelar o Movimento reliigoso, nem católico, nem protestante. Eles devem caminhar com os próprios pés” disse o ministro.

Resistências

A principal resistência à formalização do Fórum tem partido de Minas Gerais, onde lideranças religiosas ligadas ao Centro Nacional de Resistência e Africanidade Afro-Brasileira (CENARAB), vinculadas a CONEN, se mostram reticentes à criação de um organismo nacional para ser interlocutor único das religiões de matriz africana com o Estado.

Os defensores do Fórum – em especial lideranças do Centro de Tradições Afro-Brasileiras (CETRAB)-, coordenado por Dolores Lima, no Rio, e outras entidades espalhadas pelo país, tem maior proximidade com o Coletivo de Entidades Negras (CEN) articulação política surgida na Bahia, impulsionada pelo Ogã, Marcos Rezende, e que transformou-se numa força nacional – como ficou demonstrado na Conferência de Brasília.

A Afropress apurou que a não formalização do Fórum na Conferência se deveu mais a razões políticas – por causa da alteração da correlação de forças que disputam a hegemonia do Movimento Negro na interlocução com o Estado e com o Governo – e menos as razões alegadas pelo ministro.

Conselho Superior

Enquanto o Fórum Nacional das Religiões de Matriz Africana aguarda o Encontro de agosto para ser oficialmente criado, lideranças religiosas começam a debater propostas para sua estruturação.

Afropress apurou que um dos pontos em discussão é a criação de um Conselho Superior que cuidará da doutrina, normas, regras e da posição das religiões em relação a temas controversos do debate público, como a questão do aborto, células tronco, entre outros. Esse Conselho deverá ter na sua composição, as lideranças mais respeitadas, de todos os ramos da religião.

Religiões diversas

Ao contrário do que se imagina, segundo explicou uma dessas lideranças, as religiões afro não se reduzem ao Candomblé e a Umbanda. Existem outras vertentes em vários Estados, sem contar com as características que a Umbanda e o Candomblé adquirem de acordo com a região em que a religião é professada.

Abaixo do Conselho Superior estará um outro órgão que reunirá todas as entidades nacionais. O Fórum será um novo interlocutor perante o Estado no momento em que as religiões de matriz africana passaram a ser alvo de manifestações de intolerância.

Força política

Nasce, por outro lado, como força política, capaz de representar milhões de pessoas negras ou não, que tem as religiões afro como sua fé.

Segundo pesquisa Datafolha realizada em 2006 e 2007, adeptos do candomblé e de outras religiões afrobrasileiras são menos de 1%, porém, esses dados não levam em conta o fato de que milhões de pessoas não assumem a religião em virtude de serem alvo de perseguições e preconceitos.

Católicos, de acordo com a pesquisa, são 64%; evangélicos pentecostais são 17% e os não pentecostais, 5%; Espiritas ou espitirualistas são 3% e, umbandistas, 1%. Outros 3% dizem pertencer a outras religiões, e 7% dizem não ter religião ou se declaram ateus.

Por iniciativa do Coletivo de Entidades Negras (CEN) e dos religiosos será lançada em setembro, em Salvador, a campanha “Quem é de Axé, diz que é”, que terá um Censo Nacional com o objetivo de identificar qual é o tamanho dos adeptos das religiões afro na população brasileira.




Fonte: Afropress