domingo, 20 de setembro de 2009

Mãe Hilda Jitolu, a Candace do Ilê Aiyê



Euá colonaê didewá nagô, Agô agolonã, Eki maior didewá nijeô





Hoje a manhã do Curuzu no bairro da liberdade começa com o sol diferente sem o brilho de todos os dias; é que a candace do Ilê Axé Jitolu partiu para o orum.
As candaces são rainhas mães, mulheres de sangue real, corajosas guerreiras que ocuparam posições proeminentes, status importantes, funções políticas, sociais e culturais, que assumiram a totalidade do poder durante três gerações sucessivas no Reino Império de Cush. E aqui no Brasil, especificamente na Bahia, Curuzu, Senzala do barro preto uma importante candace, deixou mais de cem filhos e filhas-de-santo e um legado de sabedoria não só para sua família biológica e religiosa, mas para o mundo.
Ontem, dia 19.09. faleceu aos 86 anos, Hilda Dias dos Santos, a matriarca do Bloco Afro Cultural Ilê Aiyê; Mãe preta, Dona Hilda, Mãe Hilda Jitolu, assim que muitas pessoas conheciam esta yalorixá que nasceu no bairro de Brotas, em Salvador. Casou-se com Waldemar Benvindo dos Santos e teve cinco filhos, entre eles, Antônio Carlos dos Santos, (Vovô Presidente do Ilê) Dete Lima e Vivaldo , todos diretores da instituição.
Aos vinte anos de idade mãe Hilda foi convocada pelos orixás a trilhar o seu odu religioso e nove anos depois, fundou o terreiro Ilê Axé Jitolu, o qual comandou por mais de 50 anos.
Uma mulher decidida nos momentos importantes, acolhedora, observadora, incentivadora dos projetos culturais e guardiã dos conhecimentos ancestrais, assim podem definir Yá Jitolu.
Outra contribuição importante desta sacerdotisa foi a fundação da Escola Mãe Hilda Jitolu em 1988, um espaço educacional que preserva os saberes da cultura africana para além do sagrado e eleva a auto-estima não só das crianças como das famílias na comunidade.
Esta candace teve um papel fundamental na reconfiguração identitária do povo do curuzu e da comunidade negra, pois em 1974 quando o bloco Afro Cultural Ilê Aiyê saiu da senzala do barro preto na Liberdade e desfilou no carnaval de Salvador com uma conotação positiva dos afro descentes, reafirmando o seu grupo de pertencimento e visão de mundo, Mãe Hilda com o seu axé, sob a sabedoria de Obaluê, abriu caminhos para o mais belos dos belos de casa de taipa tornasse concreto, e fosse reconhecido, mundialmente, como o Centro Cultural Senzala Do Barro Preto.
Como na canção a força do ilê, força essa que não seria apenas do Ilê Aiyê, mas também da yalorixá que com os seus saberes e orientação espiritual transformou-se em uma referência para o povo de axé no estado da Bahia.
A atuação desta líder religiosa na comunidade é uma reafirmação da importância do papel das mulheres negras como principais baluartes na luta pela discriminação racial e cidadania do povo negro.
Sendo assim a nossa candace parte para o mundo invisível deixando além de muitas saudades os frutos para as próximas gerações!
Mojúbà, Olorum Modupé, Kalofé, Motumbá, Mucuiu, Yá Hilda Jitolu.

Ana Paula Fanon é Repórter, Produtora Cultural e ex-dançarina do Ilê Aiyê.